Dica de leitura
Minha Vida De Menina - Helena Morley
Quando Helena Morley - pseudônimo de Alice
Dayrell Caldeira Brant (1880-1970) - era criança, na Diamantina dos anos 1890,
seu pai, pequeno minerador descendente de ingleses, aconselhou-a a escrever
diariamente num caderno suas observações sobre o mundo à sua volta.
Ela seguiu o conselho do pai e, entre os
doze e os quinze anos, manteve um diário em que anotava não apenas o dia-a-dia
na família e na escola, como também agudos comentários sobre a vida da cidade e
da região, com seus costumes arraigados, suas relações sociais, suas
contradições.
Minha vida de menina é esse diário; ele
cobre os anos de 1893 a
1895, mas só foi publicado em livro pela autora em 1942, causando impacto
imediato nos meios intelectuais brasileiros.
História da vida privada avant la lettre, o
livro radiografa o cotidiano da sociedade brasileira de província nos
primórdios da República, momento em que "a escravidão acabava de ser
abolida e o trabalho livre não estava ainda enquadrado nas alienações da forma
salarial", como observou o crítico Roberto Schwarz em seu ensaio sobre
Morley, "Outra Capitu" (em Duas meninas, Companhia das Letras, 1997).
As contradições sociais, as lentas
inovações tecnológicas, os atritos interpessoais, as festas religiosas, as
várias faces do "racismo cordial", tudo isso surge nas páginas de
Minha vida de menina numa linguagem franca e saborosa, plena de humor e calor
humano.
Por seu valor literário e histórico, o
livro foi exaltado por escritores como Carlos Drummond de Andrade e Elizabeth
Bishop (que o traduziu para o inglês), e chegou a despertar dúvidas sobre a
idade da autora ao escrevê-lo. À suspeita de que teria sido redigido já na
maturidade, Guimarães Rosa contestou que, nesse caso, não conhecia em nenhuma
outra literatura "mais pujante exemplo de tão literal reconstrução da
infância".
Uma coisa é certa: em Minha vida de menina
Alice/Helena criou uma obra de encanto singular, que pode ser lida como romance
de formação de uma mulher e, ao mesmo tempo, de um país.
Helena Morley é o pseudônimo Alice Dayrell
Caldeira Brant, nascida em 28 de agosto de 1880 em Diamantina, Minas Gerais.
Estudou na Escola Normal da cidade e casou-se, em 1900, com Augusto Mario
Caldeira Brant, com quem teve seis filhos. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1970.
Minha vida de menina foi traduzido para o francês por Marlyse Meyer e para o
inglês por Elizabeth Bishop.
Augusto Mario Caldeira
Brant (“Leontino”) e Alice Dayrell (“Helena Morley) |
Prefácio 5ª reimpressão – 1999 Companhia
das Letras, 1998
Este livro, talvez por ter sido escrito em
forma de diário, nos faz participar de cada momento vivido por Helena. E eu
como mineira de coração, vivi cada cena. Visualizando os móveis, as roupas, as
casas e principalmente as comidas.
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